A família
continua dando o que falar. Há quem mostra seus problemas para, talvez, passar
a ideia de que ela é uma instituição falida, que seria melhor abandonar; há
quem faz novela sobre a família para passar a ideia de que tudo mudou e que há
muitos modelos de família, todos com igual direito ao reconhecimento da
sociedade; nestes tempos de exacerbação da individualidade e da subjetividade,
também a realidade família dependeria da criatividade de cada um e já não
existiria mais um referencial comum de família, válido para todos...
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Sagrada Família - Matriz de São José Paraisópolis (MG) |
Não há dúvida de
que a família enfrenta hoje uma crise cultural profunda, como bem observa o
papa Francisco na Evangelii Gaudium (nº 66), que não deixa intactas nem mesmo a
identidade e a missão fundamental da família. E esse estado de ânimo tomou
conta de setores da própria Igreja e de cristãos, que já não sentem mais
segurança sobre o que afirmar a respeito da família e sua missão, apesar dos
ensinamentos claros do Magistério da Igreja.
Mas a mesma
Igreja não se desencoraja diante das dificuldades e crises enfrentadas pela
família e continua a interrogar-se sobre qual é o desígnio divino sobre a
família e sobre como ajudá-la a conhecer melhor a vontade de Deus e a
corresponder com a vocação da família. Afinal, na sua fé, baseada na Palavra de
Deus, a Igreja tem a convicção de que a família não é produto apenas de
projetos humanos, mas faz parte de um plano amoroso de Deus em relação ao homem
e ao mundo.
Foi com este
objetivo que o papa Francisco anunciou a realização a assembleia extraordinária
do Sínodo dos Bispos de outubro de 2014, para tratar das situações atuais da
família que interpelam a Igreja e desafiam a evangelização. Para preparar esse
Sínodo extraordinário, já foi feita uma consulta ampla, através das
Conferências Episcopais de todo o mundo, para ter uma visão sobre a situação da
família nos mais diversos cantos do mundo e sobre as questões mais desafiadoras
para a missão da Igreja.
A Secretaria
geral do Sínodo dos Bispos recebeu uma imensidade de respostas e está
trabalhando na preparação do instrumento de trabalho para o Sínodo de outubro.
O levantamento procurou ser muito realista, não se furtando nem mesmo às
questões mais espinhosas vividas pelas famílias.
Com o mesmo
objetivo, o papa Francisco já quis ouvir os membros do Colégio Cardinalício,
reunidos com ele nos dias 20 e 21 de fevereiro passado. Cerca de 150 cardeais
refletiram sobre o “Evangelho da família”: o que Deus quis da família “desde o
princípio”, ao criar o homem e a mulher um para o outro? Como o pecado atingiu
a realidade e a vida da família? Como o plano de redenção, que Deus realizou em
Jesus Cristo em favor da humanidade, envolve também a família? Qual é o lugar
da família no conjunto da vida e da missão da Igreja?
Foram dois dias
fecundos, de reflexões e testemunhos muito enriquecedores sobre as realidades
familiares nos diversos continentes e países; deu para perceber que a
problemática da família não é a mesma em toda parte e que os problemas são mais
acentuados nos países ditos “ocidentais”, onde a crise cultural é mais profunda.
Não se deixou de refletir sobre as situações, sempre mais frequentes, dos
casais que vivem uma segunda ou terceira união, depois de desfeito o casamento.
Há sincero desejo da Igreja de ajudar esses casais a viverem na Igreja e a
perseverarem na fé, mesmo quando não lhes é possível receberem a santa
comunhão. As questões a enfrentar, porém, são complexas e não se devem esperar
respostas simplistas.
O papa Francisco
convidou a Igreja a viver o “caminho sinodal” dos próximos dois anos com
interesse, confiança e muita oração, para discernir com serenidade o que Deus
está pedindo à sua Igreja neste momento de sua história.
Cardeal Odilo
Pedro Scherer - Arcebispo de São Paulo (SP)
Fonte: cnbb.org.br
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